Clio usa o tempo a favor

Teste: Clio usa o tempo a favor
Veterano compacto ajuda a Renault a finalmente aprender a vender carros no Brasil

Depois de 15 anos de Brasil, a Renault parece ter aprendido algumas sutilezas do mercado local. O Clio é uma prova disso. O modelo foi lançado em terras nacionais em 1999 para brigar com versões mais equipadas de Gol e Palio. Dez anos depois, com a diversificação da linha da marca francesa e o surgimento da dupla Sandero e Logan como líderes de venda da Renault, o Clio foi "rebaixado" para não sair de linha. E foi nesse novo nicho de mercado que o compacto se achou. E vende mais do que nunca. A chave para o sucesso do carro de entrada passa diretamente pela nova garantia de três anos, uma forte campanha de marketing e pelo reconhecimento da marca – algo que leva tempo para ser conquistado.  
A nova estratégia da Renault começou em julho de 2010. E o resultado nas vendas foi imediato. Até esse momento, o Clio tinha uma média de 2 mil unidades vendidas mensalmente. Já no mês seguinte, foram comercializadas 3.514 exemplares. Resultado direto do custo/benefício agressivo do compacto. Esta nova média se manteve até o final do ano, o que fez com que 30 mil unidades Clio ganhassem as ruas em todo 2010.
   
Para reposicionar o seu compacto no mercado, a teve de refazer a sua imagem frente a um público que busca geralmente o primeiro carro. A própria marca admite que os consumidores desta faixa tinham um certo "freio" com a Renault, por acharem que os seus carros tinham manutenção cara e peças difíceis de serem encontradas. Por isso, a fabricante francesa estendeu a garantia para três anos ou 100 mil km e diminuiu o preço da cesta de peças do Clio em 23% em relação ao ano/modelo anterior. A campanha publicitária também foi marcante e procurou reforçar esta nova imagem que a Renault passava para o seu modelo mais barato no país.


   
A reviravolta na vida do Clio chegou sem mudanças estéticas. Desde 2003, quando recebeu a sua última "plástica", o compacto tem praticamente a mesma cara, já mais que conhecida nas ruas brasileiras. Desde então, a Renault só tratou de mudar equipamentos, motores, preço e estratégia de vendas. Portanto, elementos visuais como o vidro traseiro e perfil arrendondados e grade dianteira dividida pelo emblema da marca permanecem no hatch juntamente com as rodas aro 14 com calotas. Por dentro, também foram poucas as modificações, com o adicional do painel de intrumentos que agora conta com fundo preto, mas com a mesma iluminação âmbar já tradicional na linha Renault. 
   
Atualmente, o compacto é vendido por iniciais R$ 26.150 com duas portas, na única versão de acabamento Campus. De série, vem equipado com ar quente, desembaçador do vidro traseiro, para-choques na cor da carroceria, retrovisores com regulagem manual interna, barras de proteção lateral, aviso sonoro de luzes acesas, pré disposição para rádio, brake-light e rodas aro 14. A versão testada ainda adicionava ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, conta giros, limpador de para-brisa traseiro e apoios de cabeça para os ocupantes dos bancos de trás. Com esses equipamentos, o Clio Campus sobe a R$ 31.300 – na configuração quatro portas, parte de R$ 27.650 e chega a R$ 32.800.


   
Nesse ponto, a Renault não ousou, e manteve a faixa de preços próxima ao de seus principais rivais duas portas. Chevrolet Celta – já reestilizado – sai de R$ 26.115 e atinge R$ 30.518 com equipamentos semelhantes e Fiat Palio Fire – com desenho antigo – custa R$ 26.290 e chega em R$ 31.268. Já o Ford Ka tem o preço inicial mais barato, com R$ 25.420, mas equipado bate nos R$ 30.710, enquanto o Volkswagen Gol Ecomotion – da geração anterior – é o mais caro da turma: parte de R$ 26.960 e chega a R$ 32.150.
   
O Clio também conta com um ás sob o capô. É o motor 1.0 16V Hi-Flex, único do segmento a contar com quatro válvulas por cilindro. A potência gerada é de 76/77 cv a 6 mil rotações e o torque máximo é de 10/10,2 kgfm a 4.250 rpm. Tudo para ajudar a mostrar que, pelo menos para a Renault, a experiência por aqui valeu a pena.



Instantâneas

# O Clio foi lançado no Brasil em 1999 e desde então já vendeu 250 mil unidades. A geração anterior, contudo, surgiu três anos antes.
# O hatch compacto é produzido na unidade da Renault em Santa Isabel, Argentina.
# Além do Clio, a Renault faz estratégia parecida com a Mégane Grand Tour. A station wagon média agora é vendida por R$ 49.050 já bastante completa e entra na faixa de preços de rivais menores, como Volswagen SpaceFox e Fiat Palio Weekend.
# Na Europa, o Clio tem uma geração nova, lançada em 2006 e reestilizada em 2009.
# A variante sedã do Clio foi aposentada no Brasil e sua plataforma deu origem ao Symbol, que é fabricado na mesma fábrica argentina do Clio hatch.




Ponto a ponto


Desempenho – O motor 1.0 16V Hi-Flex não deixa a desejar no Clio. Com a boa potência de 77 cv com etanol para um motor "mil", o hatch da Renault é um carro ágil para o trânsito na cidade. Como é comum em propulsores multiválvulas, a unidade de força disponibiliza mais força em rotações elevadas, mas nada que atrapalhe o bom desempenho do Clio em baixa. A leveza de seus 880 kg também ajuda para que o zero a 100 km/h seja cumprido em 14,5 segundos. Nota 8.

Estabilidade – Para um carro popular e com pouca sofisticação mecânica, o Clio se mostra bom de curva. A suspensão é bem trabalhada e consegue deixar o hatch estável até em curvas mais fechadas. O fato de ser um carro leve é outro ponto que ajuda o Renault a ser fácil de dirigir. A comunicação das rodas com o volante também é boa e fica precisa até a faixa dos 120 km/h. Em freadas bruscas, o compacto também não faz menção de mergulhar. Nota 7.

Interatividade – É aqui que a Renault mostra o indisfarçável anacronismo presente no Clio. Os comandos dos vidros elétricos, do pisca-alerta e do sistema de travamento das portas são posicionados próximos à manopla do câmbio, e por isso, são muito pouco intuitivos. No câmbio, os engates são muito duros e pouco precisos. Já a posição de dirigir é encontrada facilmente e os vidros oferecem uma boa visibilidade do trânsito. Nota 6.

Consumo – Em trajeto 2/3 na cidade e 1/3 na estrada, o Renault Clio Campus 1.0 16V Hi Flex conseguiu a boa média de 8,2 km/l só com etanol. Nota 8.

Conforto
– Para um carro com foco urbano, os bancos são duros demais e dirigir por muito tempo no Clio cansa. A suspensão, no entanto, consegue absorver com eficiência as imperfeições das estradas brasileiras. Motorista e passageiro gozam de bom espaço, principalmente para ombros e cabeça, e os ocupantes do banco traseiro também desfrutam de boa dose de conforto para um compacto. Nota 7.

Tecnologia – O Clio Campus usa a mesma plataforma desde o seu lançamento no Brasil, em 1999. Por outro lado, o motor 1.0 16V Hi Flex só entrou na gama do hatch em 2006 e é o único propulsor de mil cilindradas com quatro válvulas por cilindro vendido no Brasil. A versão testada vinha com recursos tecnológicos interessantes para o segmento, como vidros e travas elétricas. Já o rádio padrão da Renault tem poucos recursos e qualidade de som limitada. Nota 7.

Habitabilidade – Os porta-objetos são escassos no Clio, outra manifestação de que se trata de um projeto de quase duas décadas. O único que tem espaço para guardar itens como celular e carteira fica na parte superior do painel e conta com um vão interessante. Ainda sobram os espaços nas portas e sobre o porta-luvas, mas são pouco práticos e não conseguem abrigar muita coisa. O porta-malas de 255 litros condiz com o segmento. Como todo modelo de duas portas, elas são maiores que nos de quatro, o que facilita a entrada dos ocupantes dos bancos dianteiros. Atrás, é preciso fazer um pequeno contorcionismo para entrar, mas nada muito grave. Nota 7.

Acabamento – Para um modelo que está entre os de menor custo no país, o Clio consegue agradar aos ocupantes. Não que use materiais nobres no seu interior, mas os plásticos rígidos e duros usados ainda têm encaixes precisos. A quantidade de rebarbas aparentes é quase nula. O mesmo cuidado aparece nas portas, também revestidas de plástico. Nota 8.

Design – O desenho do Clio já está datado. Com praticamente a mesma carroceria desde 1999, o pequeno Renault não chama a atenção de ninguém nas ruas. Mesmo assim, consegue ter design simpático, ao contrário da maioria dos modelos do segmento de compactos de entrada. Nota 7.

Custo/Benefício – A Renault cobra R$ 26.150 pelo Clio Campus duas portas, com apenas itens como ar quente, pré disposição para rádio e alarme de aviso de luzes acesas. Olhando só o preço, o modelo fica na média de Chevrolet Celta, R$ 26.115, Fiat Palio Fire, R$ 26.290, Ford Ka, R$ 25.420, e Volkswagen Gol Ecomotion – Geração 4 –, R$ 26.960. Mas o Clio ainda conta com a garantia de três anos, inédita em um segmento em que as marcas dão apenas 12 meses. Nota 8.

Total – O Renault Clio Campus somou 73 pontos em 100 possíveis.




Impressões ao dirigir


Simples assim
   
O Clio é um carro que assume a sua simplicidade, mas que, mesmo assim, oferece alguns prazeres ao volante. Dinamicamente, é um modelo interessante. O motor 1.0 16V oferece boas respostas, principalmente em altas rotações. Aliado ao baixo peso de 880 kg, deixa o compacto com um comportamento bastante interessante no trânsito urbano, mas que poderia ser melhor se o câmbio não tivesse engates demasiadamente duros. O hatch também surpreende na estabilidade. O bom acerto na suspensão permite uma tocada até mais agressiva em curvas e trechos sinuosos. O jogo também não compromete o conforto ao rodar nas ruas brasileiras e filtra bem a buraqueira..
   
No interior, os plásticos são rígidos e de pouca qualidade, mas tem um bom encaixe, quase sem rebarbas aparentes – algo raro entre os populares de entrada – passando a impressão de um certo esmero na montagem. A crítica aqui fica para a pequena oferta de porta objetos. Há apenas um com tamanho decente na parte superior do painel. Os comandos dos vidros elétricos também são mal colocados, requerem o desvio de atenção do motorista e poderiam ao menos ter a função um-toque. Apesar de tudo, o Clio oferece um bom espaço na cabine, mesmo para os ocupantes dos bancos traseiros, e os trata com alguma dose de conforto.
   
Mas, mesmo com a qualidade ao dirigir e bom acabamento, quem fez o hatch "renascer" no mercado brasileiro foi a estratégia da Renault voltada para o custo/benefício do modelo. Com uma política de vendas voltada ao público jovem e de classes que procuram pelo primeiro carro, o Clio voltou a ser uma opção interessante dentro do segmento de populares. Com o apoio, ainda, do marketing dos três anos de garantia.

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